sábado, 13 de janeiro de 2024

Sentimento e razão

 

 

Sentimento e razão

São dois irmãos siameses

Cérebros diferentes

Mas os mesmos desejos

E o mesmo coração

 

Ambos andam na mesma direção

Personalidades opostas

Mas se um tenta passar por cima do outro

Sucumbem ao fracasso

 

Quando logram comunicação

As decisões são sábias

Equilibradas

Contornam seus obstáculos

Reparam quaisquer danos

 

Ninguém pode gritar mais alto

Pois não podem trilhar diferentes caminhos

Sabem que ouvir é mais importante que falar

Se o sentimento não dá ouvidos à razão

Os danos podem ser irreparáveis

 

Decisões puramente racionalizadas

Perdem a cor e o encantamento

E a vida fica tão árida vazia de sentimento

 

Muitas vezes, o amor é mais importante que a razão

Mas, amar é também pensar e pensar é também amar

 

O Bem e o Mal moram na mesma casa

E o prazer é o amigo íntimo da dor

Vida e Morte casaram-se

E somos seus eternos convidados

 

Saber pensar e sentir é aceitar o convite da Vida

E vivê-la, ao mesmo tempo, com sabedoria e intensidade

 

O mundo tem perdido a razão para a imbecilização da consciência

São inúmeros os exemplos pelos veículos midiáticos ou pela Literatura

 

Vinganças machadianas

Precipitações como no caso drummondiano da Morte do leiteiro

A impassibilidade humana em Uma vela para Dario de Dalton Trevisan

A violência intestinal como nos contos de Ruben Fonseca

Como nos contos de terror de Horacio Quiroga

 

Fernando Sabino e sua crônica dramática

O homem que havia morrido de fome em pleno centro de uma cidade

Por ali passavam milhares de pessoas

 

Certa vez, li no jornal uma notícia cuja manchete dizia:

 “mãe assassinada a golpes de faca na frente dos seus três filhos pequenos”

 

Três crianças pequenas, na formação embrionária da consciência

Seres que sentiam, que teciam seus primeiríssimos pensamentos

Seres que tinham na mãe seu referencial de acolhimento, de amor

A sua “heroína”

Por mais cheia de defeitos que ela poderia ser

 

Não é novidade o esvaziamento da alma do outro para que se torne coisa

E, como coisa seja tratado

Ora para que seja escravizado, ora pelo embalo de outro sentimento detestável

 

Aquele que desumaniza, já se desumanizou

Aquele que coisifica, já se coisificou

Aquele que não vê a alma alheia, já perdeu a sua própria

Congelado num torpor que lhe esteriliza a razão

 

Em Vidas Secas, de Graciliano Ramos:

A secura dos seres os torna bichos ou coisas

Mas os bichos podem ter sentimentos mais afáveis que de seres (ditos humanos)

Assim, perde-se a razão e a capacidade de administrar os próprios sentimentos

 

                Alguns de nós conseguimos enxergar além do que vemos

                Desprendemo-nos da matéria orgânica presa pelas correntes do tempo físico

                Superamos a frialdade das substâncias mórbidas

                Animamos nossa própria desesperança

                Acendemos uma luz pálida onde impera a tépida escuridão

                Mesmo onde já se tem instaurado o lodo caótico

                Encabeçado pela desordem, incerteza e dor

 

                Sentimentos desordenados trazem a imbecilização da razão    

                Sem alguma companhia de sentimentos, a racionalidade pura nos sufoca

                Deve um acolher o outro, é uma vida de cumplicidade

                O Ser, pois, supera seu estado de coisa e restabelece seu estado de integridade

               

Onde houvesse amor com sabedoria, tudo floresceria

 

Ah, este, o Amor, de quem Platão já tão comentara em seu clássico O Banquete!

 

Este, que o mestre dos mestres tanto primou por nos exemplificar

 

Este que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”

 

O Amor não tem sexo ou religião

Muitas vezes se sacrifica ao invés de sacrificar

Se, acaso falte conhecimento ou hesite a racionalidade

Este, o Amor, fortalece o estado do Ser

Faz-nos maiores e mais fortes que as tempestades

Enaltece o ser-pensante, porque recupera seu discernimento

E, por fim, traz de volta a luz, a vida...

E supera toda a angústia que quase nos coisificou!

 

 

By Danillo Macedo

Goiânia/Edéia, 13 de janeiro de 2024




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