A língua é parte integrante da vida imanente
É um rio cuja água sempre se renova
Assim as linguagens
Assim as interações
Assim os textos produzidos por uma dada
língua
Tudo que virou texto só possui a realidade material
do texto
Tudo o que o texto pretende ser já não é
mais...
O texto é todo metáfora do que tenta
representar
Só quando fala de si mesmo, então, pode ser
ele mesmo
Sugere muito mais do que impõe
Ajuda a construir as verdades
Mas, toda linguagem é ficção
Todo texto já se desprendeu da realidade
Recria-se a realidade
Cujo primeiro criador tentou esboçar
Uma obra de arte
Que jamais será aquele ou daquele que a fez
Já pertence a todos
Não conseguirá precisar a reivindicação de
sua autoria
A ficcionalidade é o fado incontestável do
texto
Todo texto é uma nova criação, quando não é a
própria criatura
A folha de caderno, o outdoor, etc., são
apenas “suportes”
O texto é um processo mental
Não é um produto definitivo
Ele revive quando se o lê, é ai que se
acende, se revigora
Quando jazido nas páginas mórbidas de um
livro, sem ser lido, é uma vela que se apagou e já não existe
É uma forma represada de magma latente que um
dia poderá ser ressuscitado por um espírito letrado
A língua é muito mais latência e silêncio
A língua é muito mais potência do que
palavras indômitas
O texto é muito mais o que não foi dito
quando se escolheu palavras imprecisas com que tecê-lo
O texto é a linha enquanto a língua é o
novelo
O texto é muito mais ouvir que se perder em escrevê-lo
O mundo das aparências pode sempre mudar e de
fato muda a todo instante
Tudo que está latente é muito mais poderoso e
perene
A língua é um mar de gelo, o texto é um
cavalo infrene
Há muito mais perguntas que respostas
A língua é só um instrumento do pensamento
abstruso
A língua é a estrutura, a força, o plasma das
palavras que saem furiosas
Há muito mais a se ouvir das coisas silentes
do que das precipitações ruidosas
O texto alimenta a fome da alma...
O texto é isto: tecido que precisa do sopro
da vida...
(by Danillo Macedo)