Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. (Milan Kundera)
Amar o prazer não é amar
O sofrimento existe para por termo
No que aflora apenas os biltres abraços da mesquinharia
O desejo medra o medo
E sucumbe à resistência por zelo
Que é o amor?
De tempo em tempo
Não sei do que se trata
Pessoas vivem-no?
Ele é coisa dos vivos?
Ele é coisa da alma?
A alma é coisa de quem?
Talvez seja possível, no empreendimento do raciocínio,
concebê-lo
Sabendo-se o que não poderia jamais ser
Saber-se-ia melhor elucidar o que é isto de ser e não ser
Se o amor é grande demais para o raciocínio comum
Talvez devamos simplificar o amor
Ou então tentarmos descrever parte daquilo de que seria
feito
Ele parece não se sustentar nas coisas rasteiras deste
mundo
Pois é simples, mas também profundo
E seguiu o rasto descaminhado de alguma estrela...
Não quero vender paraísos...
Às vezes é o sonho que se desfaz...
Desejos do corpo...
Vazios da alma...
Talvez não fosse sonho...
Viver a vida com intensidade...
Dirão os mais otimistas...
Parafrasearia Clóvis Filho...
“Faça, nela, somente aquilo que, dizia Nietzsche, der
vontade de fazer e refazer infinitas vezes nesse tempo finito em que tudo
retorna (diria Kundera), embora nada perdure no instante do retorno, mas que
precisa ser este insistir para instituir o eterno retornar”
“Deixem minha consciência em paz”
Outros diriam...
“Que coisa nobre a consciência!
Atormentada por oportunistas, exaure as forças do homem”
“O amor endeusa, às vezes
E deixa de ser amor
O amor verdadeiro ama o lixo e ama a flor”
Sei que amar é amaro quando do paladar rasteiro
Que causa quizilenta dor
É fogo que queima sem sentir e sem se ver
Tudo quanto se esvai foi de outra matéria que não do amor...
O amor não é deste fogo que se apaga
É fogo que se esconde
Para te penetrar promíscuo pelas arestas
E te faz fogo
Então irrompe em fogo com fogo
Que arde violentamente e queima tudo que é feito de prazer
Quando só sobram as rugas, soçobra o que não foi fundado no
amor
Mas afundou com as volúpias
O amor, pois, não pode ser coisa deste mundo
Posto que, quanto mais arde, mais extingue e menos se
extingue
Porque não foge e não se desfaz
Sendo feito de dois corpos que ocupam o mesmo espaço
Quando parece ausente é porque sempre esteve tão presente
que se acomodou
Por ser destas presenças discretas que não são vistas desde
o olho educado pela rotina
Havendo-se sempre, mesmo sem uma forma física precisa
Às vezes dinâmico, às vezes inerte, sem ser inepto, porque
sempre constante
Ele te vê, ou melhor, te vigia de qualquer lugar porque
está em todo lugar e te conhece mais que tu mesmo pensas conhecer
Viu-te nascer e, desde então, te encomendou, de si mesmo, o
mais verdadeiro sentimento (talvez o único verdadeiro...)
Quando pareceu covarde, foi bem cauteloso
Quando se recolheu no silêncio mais profundo foi o barulho
pueril do dia a dia que não o permitiu notar suas notas celestiais
Quando te abandonaste, na verdade, ele estava ali, te
espreitando dos lugares mais banais
Como quando choraste pelos rincões da noite
Como quando beijaste aquela foto empoeirada
Como quando viste a flor que rompeu a calçada
O amor, enfim, é esta guerra sem causa...
Mas que se mantém firme em proteger o objeto amado
Sem ter um inimigo preciso...
E mesmo quando completamente se despedaça, ele sai vencedor...
Porque nada neste mundo é mais nobre e mais forte que Ele:
o Amor...
By Prof. Dr. Danillo Macedo