terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Que é o amor?


Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. (Milan Kundera)

 


Amar o prazer não é amar

O sofrimento existe para por termo

No que aflora apenas os biltres abraços da mesquinharia

 

O desejo medra o medo

E sucumbe à resistência por zelo

 

Que é o amor?

 

De tempo em tempo

Não sei do que se trata

Pessoas vivem-no?

Ele é coisa dos vivos?

Ele é coisa da alma?

A alma é coisa de quem?

 

Talvez seja possível, no empreendimento do raciocínio, concebê-lo

Sabendo-se o que não poderia jamais ser

Saber-se-ia melhor elucidar o que é isto de ser e não ser

 

Se o amor é grande demais para o raciocínio comum

Talvez devamos simplificar o amor

Ou então tentarmos descrever parte daquilo de que seria feito

Ele parece não se sustentar nas coisas rasteiras deste mundo

Pois é simples, mas também profundo

E seguiu o rasto descaminhado de alguma estrela...

 

Não quero vender paraísos...

Às vezes é o sonho que se desfaz...

Desejos do corpo...

Vazios da alma...

Talvez não fosse sonho...

 

Viver a vida com intensidade...

Dirão os mais otimistas...

Parafrasearia Clóvis Filho...

 

“Faça, nela, somente aquilo que, dizia Nietzsche, der vontade de fazer e refazer infinitas vezes nesse tempo finito em que tudo retorna (diria Kundera), embora nada perdure no instante do retorno, mas que precisa ser este insistir para instituir o eterno retornar”

 

“Deixem minha consciência em paz”

 

Outros diriam...

 

“Que coisa nobre a consciência!

Atormentada por oportunistas, exaure as forças do homem”

 

“O amor endeusa, às vezes

E deixa de ser amor

O amor verdadeiro ama o lixo e ama a flor”

 

Sei que amar é amaro quando do paladar rasteiro

Que causa quizilenta dor

É fogo que queima sem sentir e sem se ver

Tudo quanto se esvai foi de outra matéria que não do amor...

 

O amor não é deste fogo que se apaga

É fogo que se esconde

Para te penetrar promíscuo pelas arestas

E te faz fogo

Então irrompe em fogo com fogo

Que arde violentamente e queima tudo que é feito de prazer

 

Quando só sobram as rugas, soçobra o que não foi fundado no amor

Mas afundou com as volúpias

 

O amor, pois, não pode ser coisa deste mundo

Posto que, quanto mais arde, mais extingue e menos se extingue

Porque não foge e não se desfaz

Sendo feito de dois corpos que ocupam o mesmo espaço

 

Quando parece ausente é porque sempre esteve tão presente que se acomodou

Por ser destas presenças discretas que não são vistas desde o olho educado pela rotina

Havendo-se sempre, mesmo sem uma forma física precisa

Às vezes dinâmico, às vezes inerte, sem ser inepto, porque sempre constante

Ele te vê, ou melhor, te vigia de qualquer lugar porque está em todo lugar e te conhece mais que tu mesmo pensas conhecer

Viu-te nascer e, desde então, te encomendou, de si mesmo, o mais verdadeiro sentimento (talvez o único verdadeiro...)

 

Quando pareceu covarde, foi bem cauteloso

Quando se recolheu no silêncio mais profundo foi o barulho pueril do dia a dia que não o permitiu notar suas notas celestiais

Quando te abandonaste, na verdade, ele estava ali, te espreitando dos lugares mais banais

Como quando choraste pelos rincões da noite

Como quando beijaste aquela foto empoeirada

Como quando viste a flor que rompeu a calçada

 

O amor, enfim, é esta guerra sem causa...

Mas que se mantém firme em proteger o objeto amado

Sem ter um inimigo preciso...

 

E mesmo quando completamente se despedaça, ele sai vencedor...

Porque nada neste mundo é mais nobre e mais forte que Ele: o Amor...


By Prof. Dr. Danillo Macedo




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