segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

TRÊS POEMAS DE LEODEGÁRIA DE JESUS


Estâncias

Quando me fitas esse olhar tão grave,
Tão doce e cheio de melancolia,
Fica minh´alma em êxtase suave,
Esqueço a vida, esqueço esta agonia
Que me tortura a alma, noite e dia,
Quando me fitas esse olhar tão grave.

Duma tristeza infinda de sol posto
São esses olhos lindos, sonhadores;
Nos quais traduzo um perenal desgosto,
Nos quais diviso um báratro de dores.
Amo esses olhos cheio de dulçores,
Duma tristeza infinda de sol posto!

Oh! que me importam ríspidos martírios,
Com que me cerca o fado traiçoeiro!
Se, nesses olhos tristes, como os círios,
Que valem mais do que o universo inteiro,
Encontro que me importam ríspidos martírios!

 

Mutação

       À Elfrida Goulart Carneiro


Eu adorava as flores delicadas,
Me fascinava a natureza em festa,
Amava, com loucura, as alvoradas
E a solidão profunda da floresta.

Eu muito amava as brisas peregrinas,
Das claras tardes de verão tão belas,
As harmonias célicas, divinas,
E as pequeninas, rútilas estrelas.

Também amava as gárrulas rolitas,
Em torno aos ninhos, presas à ramagem,
A volitarem, ledas e catitas;

Mas que mudança! um dia te encontrei,
E para amar, somente, a tua imagem,
Estrelas, flores, tudo desprezei!...

 

Símile

Ao Dr. Manuel Dias Prates dos Santos


Quando vivemos, a sonhar amores,
Quando não temos a ilusão perdida,
Quando noss´alma não padece dores,
Morrer é triste! Como é linda a vida!

Mas se nos fere o espinho da tristeza,
Se maltratados somos pela sorte,
Se nos é dado o cálix da incerteza,
Viver é triste! Como é doce a morte!


Conforme alguns autores, teria nascido em Caldas Novas (GO), em 08.08.1889, mas teria adotado Jataí como sua cidade natal (1891). Estudou no Colégio Santana, de Goiás Velho. Leodegária foi criada em Jataí, onde colaborou com a imprensa, passando por outros estados como Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Um de seus escritos poéticos que foi intitulado “Voo cego” chegou a ser reproduzido e comentado por Joaquim Osório Duque Estrada. Foi uma das redatores do jornal “A Rosa” ao lado de Cora Coralina, em 1907. Depois de passar por várias cidades goianas, mudou-se para Minas Gerais. Faleceu em Belo Horizonte (MG) em 12/07/1978. Escreveu, entre outros livros, Orquídias (1928), Coroa de lírios (1906). Foi criteriosamente estudada por Basileu Toledo França, no livro Poetisa Leodegária de Jesus; e por Darcy França Denófrio em Lavra dos Goiases III Leodegária de Jesus


Leodegária de Jesus, na arte de Amaury Menezes

Edited by Danillo Macedo


 

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