terça-feira, 30 de maio de 2023

Versão "disponibilizável" da minha tese de doutorado

 

Versão "disponibilizável" da minha tese de doutorado; esta é sua última versão em PDF; logo, ela estará disponível para acesso on-line no acervo digital da Biblioteca Central da UFG. 

Em um segundo momento, ela será por mim revisada (mais uma vez) e publicada em forma de livro. 

 

Acesse o link para abrir a tese em PDF:

https://drive.google.com/file/d/1YfdUx61FZTa7yj5ia2S59Y3H9Op5p3rO/view?usp=share_link


VERSÃO OFICIAL:


https://repositorio.bc.ufg.br/tede/items/80a216a3-36ee-48e8-956d-1ae95f77f753/full


Prof. Dr. Danillo Macedo




sábado, 27 de maio de 2023

O Tempo é soberano

 





MINHA LEITURA:




 “a maior loucura do mundo era gover­ar-se pelo som de um sino, e não pela ordem do bom senso e entendimento” -  François Rabelais (1494-1553)


“em cada uma de suas marcas um tipo de homem individual-social existiu,

em sua singularidade, finitude e inefável intensidade. O céu é a régua -

sob e entre os astros a história humana ganha

 uma numeração." – José Carlos Reis (UFOP)

I

O relógio marca as horas

Que imitam a Natureza

O calendário emula os astros

Os astros inalcançáveis

O tempo não se emula

Se esboça em linhas precárias

O tempo é nossa flama

Enquanto se inflama

Aos olhos a vida

O relógio, o calendário

Ficam estáticos

Sempre inacabados

Dias que não foram vividos

Promessas na clepsidra

Rotina que se perdeu nas coisas

Chances que nem foram vistas

Tudo se perdeu da vista

E o relógio parou de girar

As contas não foram pagas

Os meses todos nos traíram

Choveu nos dias errados

Erramos em dias estiados

Nem vi quando dormi

É um golpe impassível

Foi bom sonhar acordado

E viver como se dormia

Consertei o que havia perdido

Perdi o que não foi consertado

Encontrei o que nem procurava

Procurei a estrada mais certa

Entrei pela estrada errada

Achei que a vida era tudo

Mas, quando, finalmente, acordei

Eu vi que a vida era nada...

 

II

O tempo era bom antes de ser inventado

Inventaram a hora de dormir e de levantar

Para irmos produzir riquezas para os ricos

Para fazermos mais no menor intervalo

Para estudarmos e aprendermos suas regras

E, antes do tempo dado: enchermos suas adegas...

 

III

Existem tempos, não o tempo (pseudo) organizador

O tempo da vida é complexo: há o tempo de plantar e colher

Há tempo de viver a tristeza, há tempo de colher o amor

O tempo da vida é maestro, o tempo opressor: inventado...

 

IV

Há o tempo da Física: que mede o movimento no espaço

Há o tempo da memória: da vida recuperada em pedaços...

Há o tempo de entender e há o tempo de ensinar

Há o tempo de sofrer, de viver, de morrer, de errar e de amar...

 

V

“perder tempo”

É uma frase do tempo inventado

Significa ter vivido, muito ou pouco

Mas nenhum lucro oferecido aos cínicos

Enriquecidos e emburrecidos num mundo

jazido em idiotismo...

 

Queria que meu tempo pertencesse a mim...

O mundo se dissolveu em trabalho e agonia

E não há melhor maquiagem que um sorriso

Para adornar o mundo de Arte e Poesia

Para tornar a sociedade menos hipócrita e fria...

 

VI

Deus é o Tempo, é Hoje e Agora

Não muda, não reage a alarmes e sinos

É grande como o mar

Tal qual grão de areia, é bem pequenino

Não se lembra, pois de nada se esquece

É tão frio como o coração de um estadista

Mas também nos aquece, como é a verve do artista

Deus nem precisa se comunicar

Nem língua tem, nem veio de nenhum lugar...

 

Os homens se comunicam, sim, estes sim

Porque nada sabem e, assim fazem:

Enquanto tentam saber esboçam o comunicar

Assim, deste modo o fazem:

Evocam palavras incompletas...

E criam a língua: essa coisa toda incompleta, toda metáfora!

Esta é a agonia da elucidação:

Estes espectros de vazio de conhecimento

Estes rabiscos infantes de explicação...

 

Enfim, Deus não diz...

Pois Ele é o conhecimento completo

Sabe tudo e não usa palavras

O homem tenta dizer e é dito por ele próprio

Falamos para algo inquieto dentro de nós

E o que escutam de nós é nosso grito organizado

em alguns ecos que escaparam em palavras mal formadas...

E somos isto de tentar dizer as coisas que não podem ser ditas

E que levamos para outra vida sem nunca terem sido ditas...

 

Quem sou para falar de Deus...

Talvez Ele se diz em partes quando eu falo d’Ele e de mim

E digo isto para dizer que dizer é coisa sem Tempo e sem lugar precisos

É coisa que inventa coisas como Aquele que inventou o homem que inventou o tempo

material, impreciso...

O homem que inventou o tempo para contar seus dias

Para fazer o melhor que pode neste tempo contado...

Inventa dias, inventa prazos, este que foi inventado...

 

Inventa palavras

E se contorce mudo...

Tentando dizer

Não diz nada

Tentando ser

Não é nada

E, assim, volta à essência do Nada...

 

 

VII

 

Há o tempo exterior: material, matemático, exato

Há o tempo interior: minha memória, meu substrato

Quem conta o tempo é quem termina

Para contar o tempo discriminado

O horizonte humano é a finitude

Seu ser interrompido, acabado      

Há um perplexo passado

Do ser vivido e terminado

Num presente metafísico

Simultâneo ao todo abscôndito

Um todo que não foi revelado...

 

VIII

 

Sou memória pura...

O que lembram que fui

O que eu mesmo lembro que fui

Só o passado existe

A consolidação do ser no tempo

Duração realizada

Sou este tempo da consciência

Sou o que há de mim em cada um que de mim se lembra

Sou meus rastros, meus vestígios arqueológicos

Sou aquele que me lê e me reescreve em sua alma

E o passado é o ser conhecido...

 

Só existe este passado vislumbrado?

Por que o presente nunca dura?

Sempre, e logo, vira um novo passado?

O futuro nunca chega...

E vem de novo o passado: que se impõe

Revirado e lembrado

O ser vivido, o ser vencido, o ser cumprido

Posto agora ao conhecimento do mundo

Ao conhecimento dos outros seres vivendo

Conhecimento que vai sendo aprendido

Em outros seres que também terão sido...

 

IX

 

Nossa experiência é do perecimento

E só existimos depois do ser cumprido

O que ficou da passagem

Até então: uma vela arrastada

O indivíduo-social na beira da estrada

À deriva, no mar chamado Tempo

Uma nau, atormentada pelo vento

À espera de um retorno para casa

Enquanto as ondas lavam

Todas as marcas deixadas...

 

X

 

O tempo histórico é um poeta ilusionista

Entre a Natureza e a consciência do artista

A mente possui um fluxo descontínuo

Que o calendário e o relógio tentam organizar

Em quadros fixos, vidas dispersas

Datam nossos deveres, projetam ações

O Tempo não pode ser domado

O Tempo não é uma medida exata

Ao homem finito, tudo é datado

Contamos horas, minutos, segundos

Os dias e as horas pertencem aos astros

Pertencem-nos, talvez, algumas escolhas

Somos numerados por diretrizes e protocolos

Assim, os dias, na sucessão dos processos

Ao tempo dos astros, noutra dimensão

Nada se antecipa, se atrasa ou se cancela

Não se protela, não se exalta ou tenta se adiantar

É tenaz, não se distrai, é sempre e é todo

Sabe curar, sabe tirar tesouros do lodo

Ele é sacro, ele é deus, Ele é mágico

Não faz contratos, não é versão, mas é um evento acabado

Julga os homens, mas também julga os ratos...

 

Somos filhos do Tempo

Do vazio, do silêncio, do escuro

Somos filhos da experiência dessa transitoriedade

 

Ele é mestre da repetição, da perfectibilidade

 

Deixamos apenas pegadas

Na experiência mágica do nada

 

Repetimos, mas mudamos

Nós mentimos, nós erramos...

 

O tempo troca tudo de lugar

 

Tudo vira isto de restolho, de resquício

Tudo vira isto de sonho interrompido

Tudo vira isto de a vida foi uma noite de glória

Tudo vira isto de o tempo provou mais uma vez

Que ele é soberano

Que ele põe todos os homens no mesmo plano

E faz no homem perplexo

Um cabedal desconexo

A sua essência:

A memória!


By Prof. Dr. Danillo Macedo

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