Tudo começou em
São José de Mossâmedes, quando Goiás era ainda Capitania de um Brasil Colônia,
em 1755. O arraial de Mossâmades havia sido construído na tentativa de acolher
indígenas “pacificados”, dentre eles: acroás,
naundos, javaés, e caiapós. Esta última etnia: a mais polêmica e motivadora
de uma grande história, da personagem mítica Damiana da Cunha: mulher,
indígena, guerreira, que viveu entre 1779 e 1831.
Milhares e
milhares de anos de uma ação realizada por constantes e lenientes pinceladas de
sedimentos rochosos, acumulados pela destreza da chuva e do vento, formaram um
monólito, cujo peso fora estimado em sessenta toneladas, sustentado por duas
pedras infinitamente menores, em uma região montanhosa da cidade supracitada. A
“maestria” de dois acéfalos anônimos, denominados apenas como “dois estudantes”
(imagine só, você, se eles não estudassem!), no ano de 1965, usando um “macaco
hidráulico”, conseguiram realizar a façanha, a troco de nada, de destruírem
este monumento milenar! O turismo da cidade foi minguado, milhares de empregos
foram destroçados pelos dois idiotas. Isto é, realmente, muito lamentável.
Pedra semelhante
ainda persiste no município de Cristalina, na Região Leste do estado de Goiás, no
âmago do Cerrado Rupestre, nomeada Pedra Chapéu do Sol, um quartzito de 347
toneladas. Monumento natural que também já sofreu inúmeras tentativas de ser
derrubado, assim como inúmeras pichações que, não obstante, não puderam apagar
muitas de suas pinturas rupestres. Diferente do monólito em questão, este ainda
resiste há milhares de anos se equilibrando numa base rudimentar. Conta-se que
nestes tempos imemoriáveis, tudo era mar e, conforme a água dos oceanos foram
baixando de nível, pedras como esta ficaram para sempre presas em algum
suporte.
O fato é que,
ainda no século XVIII, antes da capital ser transferida da Cidade de Goiás para
a recém cidade, planejada, Goiânia, havia esta pedra menor batizada “Pedra
Goiana” ou “Pedra Goyania”, a qual recebeu uma placa em meados do ano de 1915,
e ficou também conhecida como a “Pedra da Balança”.
Algumas fontes
dizem que “Goiânia”, antes grafada com “y”, “Goyania”, derivaria do
Tupi-Guarani “Guyanna” que quer dizer “terra de muitas águas”. Porém, não há um
consenso; há quem diga que, na verdade, o topônimo é oriundo de “Goyana”, que
uns dizem significar “gente estimada”, outros “mistura”, “parente” e até mesmo
“ancoradouro”. Não importa, a grande questão é que houve, no Arraial ou
Acampamento (hoje, cidade goiana) de Mossâmedes, esta pedra misteriosa, que foi
alcunhada de Goyania.
Em 1896, o
baiano Manuel Lopes de Carvalho Ramos publica, na cidade do Porto, em Portugal,
uma epopeia para o estado de Goiás (ele também residia no estado goiano, mais
precisamente, em Caiapônia), e seu título é justamente “Goyania”; seria uma
alusão à “Pedra Goyania”? De todo modo, uma referência não à cidade de Goiânia
(que ainda não existia), mas a todo o território de Goiás, ou seja, como
mencionado acima, a “terra de muitas águas”. É curioso observar que, das poucas
tiragens sobreviventes deste livro, uma delas estaria, segundo algumas fontes,
supostamente, enterrada em algum ponto da Praça Cívica, junto a outros objetos
ali enterrados na inauguração de Goiânia, embaixo da chamada “pedra
fundamental” da cidade.
Goiânia foi
inaugurada, tecnicamente, em meados de outubro de 1933, mas só foi nomeada,
oficialmente, por decreto, no ano de 1935, após um controverso concurso para
escolha de seu nome. À época, havia na Cidade de Goiás, onde se concentrava a
maior parte da população do estado goiano, um jornal impresso chamado “O Social
da Cidade de Goiás”; a equipe editorial deste jornal lançou, pois, um concurso
intitulado “Como se deve chamar a Nova Capital?”.
A primeira
sugestão veio de um intelectual da época chamado “Léo Lynce” que sugeriu, em
homenagem tanto ao fundador da cidade, Pedro Ludovico Teixeira, quanto aos
outros “Pedros” da História do Brasil, o nome que ele julgava “fácil” e
“suave”: “Petrônia”. A outra sugestão, que deve ser tomada em conta, foi o nome
que hoje leva a cidade, “Goyania”, feita na mesma edição da sugestão de Léo
Lynce, pelo professor do Colégio Lyceu da Cidade de Goiás, Caramuru Silva do
Brasil. Este dizia que o nome proposto tinha grafia, história e significado
suficientes para representar a nova capital, como prolongamento da histórica
Vila Boa e representaria, de forma ideal, a glória da origem de todos os
goianos.
Provavelmente,
Pedro Ludovico Teixeira não encabeçou o concurso (de modo algum), de iniciativa
do referido jornal. Pois, quem ganhou o concurso, vitória anunciada em 26 de
outubro de 1933, foi Léo Lynce, com o que ele chamava de lindo nome “Petrônia”;
nome que soaria bem, ao seu modo de compreender, mesmo a quem fosse “inimigo de
todos os Pedros”. Pedro Ludovico, por sua vez, ignorou o resultado do concurso
promovido pelo jornal e, por meio de um decreto que “batizava” a já estruturada
cidade, decreto de 1935, nomeou a nova capital dando a ela o nome com o qual se
simpatizou: “Goyania”. O então governador do estado de Goiás determinou que o
aniversário da nova cidade se realizasse aos 24 de outubro de todos os anos que
se seguiriam. Não se sabe ao certo o motivo deste dia exato. Sabe-se que ele
fazia aniversário aos 23 de outubro e não queria que houvesse coincidência de
comemorações; também não via nada atraente em ter um bairro com seu nome, o que
aconteceu apenas após sua morte, com o Setor Pedro Ludovico que, junto aos
setores Oeste, Norte Ferroviário, Centro e Campinas, é um dos mais antigos da
cidade.
Assim, portanto,
surgiu o topônimo “Goyania”, que depois passou a ser grafado “Goiânia”
(questões de atualização ortográfica da Língua Portuguesa). De pedra a
poema-livro e a concurso controverso, Goyania recebera apenas dois votos, um do
próprio Caramuru e outro de uma senhora chamada Zanira Campos Rios. Na verdade,
sabemos que, “na prática”, foram “três votos”; um deles, como vimos, determinante:
aquele que foi resultado da apreciação do governador do estado de Goiás, o
excelentíssimo Pedro Ludovico Teixeira; muito provavelmente, ele tinha um
exemplar do livro de Manuel Lopes de Carvalho Ramos (pai dos escritores goianos
Vitor e Hugo de Carvalho Ramos) e também conhecia a tal “Pedra da Balança” (a
“Pedra Goyania”); se isto, que afirmei por último, não for verdade, não haveria
rumores do poema épico estar, até hoje, enterrado embaixo da pedra fundamental,
concordam comigo? (coisa, naturalmente, do então austero e excêntrico
governador do nosso estado).
By Prof. Dr. Danillo Macedo - Atualizado em: 28 de abril de 2024
Abaixo, imagem da pedra citada no texto "Pedra Goyania"
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