quinta-feira, 25 de março de 2021

Goyania

 

Tudo começou em São José de Mossâmedes, quando Goiás era ainda Capitania de um Brasil Colônia, em 1755. O arraial de Mossâmades havia sido construído na tentativa de acolher indígenas “pacificados”, dentre eles: acroás, naundos, javaés, e caiapós. Esta última etnia: a mais polêmica e motivadora de uma grande história, da personagem mítica Damiana da Cunha: mulher, indígena, guerreira, que viveu entre 1779 e 1831.

Milhares e milhares de anos de uma ação realizada por constantes e lenientes pinceladas de sedimentos rochosos, acumulados pela destreza da chuva e do vento, formaram um monólito, cujo peso fora estimado em sessenta toneladas, sustentado por duas pedras infinitamente menores, em uma região montanhosa da cidade supracitada. A “maestria” de dois acéfalos anônimos, denominados apenas como “dois estudantes” (imagine só, você, se eles não estudassem!), no ano de 1965, usando um “macaco hidráulico”, conseguiram realizar a façanha, a troco de nada, de destruírem este monumento milenar! O turismo da cidade foi minguado, milhares de empregos foram destroçados pelos dois idiotas. Isto é, realmente, muito lamentável.

Pedra semelhante ainda persiste no município de Cristalina, na Região Leste do estado de Goiás, no âmago do Cerrado Rupestre, nomeada Pedra Chapéu do Sol, um quartzito de 347 toneladas. Monumento natural que também já sofreu inúmeras tentativas de ser derrubado, assim como inúmeras pichações que, não obstante, não puderam apagar muitas de suas pinturas rupestres. Diferente do monólito em questão, este ainda resiste há milhares de anos se equilibrando numa base rudimentar. Conta-se que nestes tempos imemoriáveis, tudo era mar e, conforme a água dos oceanos foram baixando de nível, pedras como esta ficaram para sempre presas em algum suporte.

O fato é que, ainda no século XVIII, antes da capital ser transferida da Cidade de Goiás para a recém cidade, planejada, Goiânia, havia esta pedra menor batizada “Pedra Goiana” ou “Pedra Goyania”, a qual recebeu uma placa em meados do ano de 1915, e ficou também conhecida como a “Pedra da Balança”.

Algumas fontes dizem que “Goiânia”, antes grafada com “y”, “Goyania”, derivaria do Tupi-Guarani “Guyanna” que quer dizer “terra de muitas águas”. Porém, não há um consenso; há quem diga que, na verdade, o topônimo é oriundo de “Goyana”, que uns dizem significar “gente estimada”, outros “mistura”, “parente” e até mesmo “ancoradouro”. Não importa, a grande questão é que houve, no Arraial ou Acampamento (hoje, cidade goiana) de Mossâmedes, esta pedra misteriosa, que foi alcunhada de Goyania.

Em 1896, o baiano Manuel Lopes de Carvalho Ramos publica, na cidade do Porto, em Portugal, uma epopeia para o estado de Goiás (ele também residia no estado goiano, mais precisamente, em Caiapônia), e seu título é justamente “Goyania”; seria uma alusão à “Pedra Goyania”? De todo modo, uma referência não à cidade de Goiânia (que ainda não existia), mas a todo o território de Goiás, ou seja, como mencionado acima, a “terra de muitas águas”. É curioso observar que, das poucas tiragens sobreviventes deste livro, uma delas estaria, segundo algumas fontes, supostamente, enterrada em algum ponto da Praça Cívica, junto a outros objetos ali enterrados na inauguração de Goiânia, embaixo da chamada “pedra fundamental” da cidade.

Goiânia foi inaugurada, tecnicamente, em meados de outubro de 1933, mas só foi nomeada, oficialmente, por decreto, no ano de 1935, após um controverso concurso para escolha de seu nome. À época, havia na Cidade de Goiás, onde se concentrava a maior parte da população do estado goiano, um jornal impresso chamado “O Social da Cidade de Goiás”; a equipe editorial deste jornal lançou, pois, um concurso intitulado “Como se deve chamar a Nova Capital?”.

A primeira sugestão veio de um intelectual da época chamado “Léo Lynce” que sugeriu, em homenagem tanto ao fundador da cidade, Pedro Ludovico Teixeira, quanto aos outros “Pedros” da História do Brasil, o nome que ele julgava “fácil” e “suave”: “Petrônia”. A outra sugestão, que deve ser tomada em conta, foi o nome que hoje leva a cidade, “Goyania”, feita na mesma edição da sugestão de Léo Lynce, pelo professor do Colégio Lyceu da Cidade de Goiás, Caramuru Silva do Brasil. Este dizia que o nome proposto tinha grafia, história e significado suficientes para representar a nova capital, como prolongamento da histórica Vila Boa e representaria, de forma ideal, a glória da origem de todos os goianos.

Provavelmente, Pedro Ludovico Teixeira não encabeçou o concurso (de modo algum), de iniciativa do referido jornal. Pois, quem ganhou o concurso, vitória anunciada em 26 de outubro de 1933, foi Léo Lynce, com o que ele chamava de lindo nome “Petrônia”; nome que soaria bem, ao seu modo de compreender, mesmo a quem fosse “inimigo de todos os Pedros”. Pedro Ludovico, por sua vez, ignorou o resultado do concurso promovido pelo jornal e, por meio de um decreto que “batizava” a já estruturada cidade, decreto de 1935, nomeou a nova capital dando a ela o nome com o qual se simpatizou: “Goyania”. O então governador do estado de Goiás determinou que o aniversário da nova cidade se realizasse aos 24 de outubro de todos os anos que se seguiriam. Não se sabe ao certo o motivo deste dia exato. Sabe-se que ele fazia aniversário aos 23 de outubro e não queria que houvesse coincidência de comemorações; também não via nada atraente em ter um bairro com seu nome, o que aconteceu apenas após sua morte, com o Setor Pedro Ludovico que, junto aos setores Oeste, Norte Ferroviário, Centro e Campinas, é um dos mais antigos da cidade.

Assim, portanto, surgiu o topônimo “Goyania”, que depois passou a ser grafado “Goiânia” (questões de atualização ortográfica da Língua Portuguesa). De pedra a poema-livro e a concurso controverso, Goyania recebera apenas dois votos, um do próprio Caramuru e outro de uma senhora chamada Zanira Campos Rios. Na verdade, sabemos que, “na prática”, foram “três votos”; um deles, como vimos, determinante: aquele que foi resultado da apreciação do governador do estado de Goiás, o excelentíssimo Pedro Ludovico Teixeira; muito provavelmente, ele tinha um exemplar do livro de Manuel Lopes de Carvalho Ramos (pai dos escritores goianos Vitor e Hugo de Carvalho Ramos) e também conhecia a tal “Pedra da Balança” (a “Pedra Goyania”); se isto, que afirmei por último, não for verdade, não haveria rumores do poema épico estar, até hoje, enterrado embaixo da pedra fundamental, concordam comigo? (coisa, naturalmente, do então austero e excêntrico governador do nosso estado). 

 

By Prof. Dr. Danillo Macedo - Atualizado em: 28 de abril de 2024


  Abaixo, imagem da pedra citada no texto "Pedra Goyania"

                       












                        Abaixo, imagem da pedra citada no texto "Pedra Chapel dol Sol"






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