domingo, 4 de dezembro de 2016

Os mortos de sobrecasaca





Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.

Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.

(De  Carlos Drummond de Andrade, da antologia poética de 1962; poema digitado e revisado neste blog por Danillo Macedo)

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