terça-feira, 28 de janeiro de 2020
Absolutismo
domingo, 5 de janeiro de 2020
Não vou mais lavar os pratos
Nem vou limpar a poeira dos móveis
Sinto muito. Comecei a ler
Abri outro dia um livro e uma semana depois decidi
Não levo mais o lixo para a lixeira
Nem arrumo a bagunça das folhas que caem no quintal
Sinto muito. Depois de ler percebi a estética dos pratos
a estética dos traços, a ética
A estática
Olho minhas mãos quando mudam a página dos livros
mãos bem mais macias que antes
e sinto que posso começar a ser a todo instante
Sinto
Qualquer coisa
Não vou mais lavar
Nem levar.
Seus tapetes para lavar a seco
Tenho os olhos rasos d’água
Sinto muito
Agora que comecei a ler, quero entender
O porquê, por quê? E o porquê
Existem coisas
Eu li, e li, e li
Eu até sorri
E deixei o feijão queimar…
Olha que o feijão sempre demora a ficar pronto
Considere que os tempos agora são outros…
Ah,
Esqueci de dizer. Não vou mais
Resolvi ficar um tempo comigo
Resolvi ler sobre o que se passa conosco
Você nem me espere. Você nem me chame. Não vou
De tudo o que jamais li, de tudo o que jamais entendi
você foi o que passou
Passou do limite, passou da medida, passou do alfabeto
Desalfabetizou
Não vou mais lavar as coisas e encobrir a verdadeira sujeira
Nem limpar a poeira e espalhar o pó daqui para lá e de lá para cá
Desinfetarei as minhas mãos e não tocarei suas partes móveis
Não tocarei no álcool
Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a ler
Depois de tanto tempo juntos, aprendi a separar
Meu tênis do seu sapato
Minha gaveta das suas gravatas
Meu perfume do seu cheiro
Minha tela da sua moldura
Sendo assim, não lavo mais nada
e olho a sujeira no fundo do copo
Sempre chega o momento
De sacudir, de investir, de traduzir
Não lavo mais pratos
Li a assinatura da minha lei áurea escrita em negro maiúsculo
Em letras tamanho 18, espaço duplo
Aboli
Não lavo mais os pratos
Quero travessas de prata, cozinhas de luxo
E jóias de ouro
Legítimas
Está decretada a lei áurea.
By Cristian Sobral (1974, Rio de Janeiro)
quarta-feira, 2 de outubro de 2019
Grito
- Danillo Macedo -
domingo, 15 de setembro de 2019
BIOLOGÍA ES DESTINO
Porque mi cerebro pesa
unos gramos menos
y mis músculos no alcanzan
la potencia
de los récords masculinos
dicen:
que biología es destino
(destino al servicio)
porque mis glándulas
me condenan
a desangrarme cada luna
y el olor y el color
de mi sangre recuerdan
mi poca angélica naturaleza
dice:
que biología es destino
(destino inferiorizante)
porque me falta
un protuberante sexo
entre las piernas,
que me libere del compromiso
de pasos lentos
y abultado vientre
tras un fugaz orgasmo,
dicen:
que biología es destino
(destino a pañal, escoba y cocina).
Porque la historia registra
miles de nombres masculinos
y muy pocos de mujeres
que vencieran las flamígeras espadas
de los arcángeles misóginos
de la fama,
dicen:
que biología es destino
(destino a la ignorancia)
Y con tantas evidencias,
deberemos enorgullecernos
cuando nos elogian magnánimos
en los discursos oficiales
diciendo:
detrás de cada gran hombre
hay siempre una gran mujer
y se olviden
—astutos y olímpicos—
de añadir
el calificativo justo
de: frustrada.
(en Antología poética de Luz Méndez Vega, Ayer y Hoy, 2006)
terça-feira, 9 de julho de 2019
Uma vela a um desconhecido
* Observação: errata: fiz uma correção (quero dizer "melhora") nos versos:
Onde se lê: Poderia ter sido por qualquer outra coisa material, pois não era material a “causa”, nem era material a “coisa”...
Agora se lê: Poderia ter sido por qualquer outra coisa material, pois não era mais material a “causa”, nem era mais material a “coisa”...
Minha declamação no "Dia da poesia - 2019 - TV UFG":
https://www.youtube.com/watch?v=XqIn5_IXfsY
terça-feira, 25 de junho de 2019
Nada começa, tudo se acaba
Le
silence éternel de ces espaces infinis m'effraie
– Carlos Drummond de Andrade –
Nada começa, se tudo se acaba...
Morre um pouco de nós
Perdoe-me a autodepreciação
O que me sobrou de resiliência
Por que sempre erramos?
Há muitas perguntas
Nenhuma resposta...
Sabe mais quem sabe menos
Mais fundo e mais lento
Caminho para a água e para o fogo
Somos quentes e frios
Por isso a Eternidade nos vomita...
Não sei se minha mente coincide com a
alma
Para os antigos, a alma é pura e o sábio
inclina para ela seu espírito
O coração inane parece coisa da carne
Não sei que fome sente o espírito
Espírito como intelecto, instintos
reorientados
Não sei que comida há para tanta fome
De tanta coisa impura, talvez fome de
serenidade
Quando penso demais até esqueço que
tenho coração
Fica tudo meio fraco e meio forte
Minha substância do Devir cumulando
neste espectro transato
Queria, por um só instante, ser eu
mesmo...
Quando tivesse ou não vontade de sê-lo
Sei que pareço contraditório
Triste ver a máscara decompor meu rosto
E ter vivido menos para mim mesmo
Adornando a feiura das coisas
À sensação de não ter vivido nada
A felicidade é uma entrega
Não paramos de buscá-la
Torna-se mais dramático quando não
chegamos ao lugar esperado
Arrastamo-nos para nos sentirmos grandes
E nos debatemos na própria pequenez
Patéticos?
Talvez sejamos quando nos batemos uns
com os outros
Tentando diminuir os outros
Em padrões invisíveis de medição
Não enxergamos que somos menores que um
grão de areia
Diante da variedade mágica do Universo
E mais patética a cena:
O nosso orgulho escondendo lágrimas
Até o próximo espelho verter pó e
restolho
Quis muito fazer pelos outros
Porém, hipócrita, fazia por mim mesmo?
Andamos em círculos?
Viemos do nada, iremos para o nada?
Mesmo assim, não aprendemos nada?
Reduzimos nossa vida a menos ainda
matando uns aos outros?
Quando podíamos, ao menos, ter sido
partícipes de um filme feliz
Cujo enredo não fosse o terror de tentar
aniquilar a felicidade dos outros
Vendendo manuais de dez passos que não
podem, por ninguém, ser dados
Até que atravessássemos o muro que nos
separa
Entre grades solitárias, câmeras
viciadas, concertinas aflitas e cadeados que inibem a movimentação de corpos,
mas sufocam mais ainda sentimentos e desejos escarmentados
Até ver cair o véu que cobre nossa
consciência...
Tudo acaba e parece óbvio...
Acho que nada acaba...
Quando o grito ecoa até o infinito
Quis aproveitar cada segundo
Sem saber que não precisava ter pressa
Na fruição do término-sempiterno
Das coisas que nunca começam
Conquanto sempre se acabam
Muito embora os segundos fugissem
A vida é um louco tentando apanhar o
vento
Não sei mais que idade tenho
Perdi a vida contemplando o interminável
Não sei em que ponto do tempo parei para
escrever
Meus últimos versos
Porque são sempre os últimos
Tudo que existe só existe por último
Emerge na superfície das coisas
E, logo, se afunda no nada mais profundo
Tudo existe e se acaba, ao mesmo tempo
Existe neste estapafúrdio instante à
frente de tudo
Que logo dá lugar a outro ente que o
anula
A existência aniquila para tornar a
existir na nova forma emprestada
Como o corpo faminto que se autodestrói
no esforço que empreende tentando não se destruir...
Todo tempo é o último tempo
O tempo todo!
E tudo está acabado
O tempo todo!
Vago no tempo: uma célula errante no
Cosmo
Acuada, em algum canto do Universo
Algum preceito, alguma ideia distorcida
que me vigia pelas beiradas de minha existência que se dilui nas partículas do
Tempo, este tempo que nos criou, nos recria e que agora nos devora...
Se tudo termina, o que, de fato,
começou?
Se tudo começa, e recomeça, ora, o que,
pois, acabou?
Dorian Gray vendo-se desmanchar no
espelho...
Mas, para os antigos, sua alma retornou
e pode estar em qualquer lugar agora...
Postagem em destaque
Ela e Ele
Declamação para o dia da poesia, TV UFG: https://www.youtube.com/watch?v=D1peN0HQtAE Acabei por achar sagrada a desordem do meu espíri...
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CLIQUE NO LINK PARA ACESSAR O VÍDEO: https://drive.google.com/file/d/1-KiCdzsSY2wwzT8OFGlIIMBVa14Gik8E/view YOUTUBE/DIA DA POESIA OUT/2023...
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Vou comentar o que entendi desta linda música interpretada por Zeca Veloso e que foi composta por Caetano Emanuel Viana Telles Veloso / Tom ...